A Paixão surgiu logo no primeiro dia, ardilosa e autoritária. A sua argúcia enlevou as hostes que passaram a glorificá-la. Era ver os suplícios a que se dispunham para servir a grandiosa Paixão. Ergueram monumentos, sacrificaram vidas, ofereceram os melhores alimentos, festejaram noite e dia mostrando o seu amor e subserviência.
Todavia, apesar das artimanhas, havia quem resistisse à velha perícia ludibriosa da Paixão. No seio do domínio apaixonado estava uma pequena moça sentada num pedestal penteando os longos e sedosos cabelos ondulados. Era a Indiferença.
A Paixão bramiu e sacudiu, ordenou que todos se unissem para conquistar a obstinada Indiferença. Mas por maior que fosse a luxúria em seu redor a pequena não se movia. Ardendo de cólera, a Paixão matou todos os seus súbditos, destruiu os campos e as casas, derrubou os monumentos, queimou as árvores e prostrou-se aos pés da Indiferença, implorando por um gesto. A Indiferença ergueu-se e partiu dizendo: